terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Revista Feijoada VIP Refúgio

Capa da revista Feijoada VIP Refúgio, um dos trabalhos mais legais que assinei em 2010, produzido pela Du.Scatolin com muita competência e bom gosto.

“As indústrias do aço precisam ter interesse no mercado da habitação popular”




Ocupando a cadeira de Diretor Técnico da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do Estado de São Paulo desde janeiro de 2007, João Abukater Neto tem reforçado a adoção de práticas modernas para oferecer habitação de qualidade às famílias de baixa renda.
Dentre as ações de modernização dos processos habitacionais estão o Qualihab, programa de qualidade da CDHU que tem materiais e sistemas construtivos industrializados aprovados a partir do cumprimento de exigências técnicas e de ensaios em laboratórios acreditados pelo Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial), e que serviu de referência para o PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat).
Para o Diretor Técnico, o sistema construtivo do aço é um caminho para atender à demanda por novas moradias e suprir o grande déficit habitacional brasileiro. A CDHU já possui várias unidades construídas com estrutura em aço e apostou no steel framing para construir o primeiro Vila Dignidade, condomínio para idosos de Avaré, no interior de São Paulo, modelo que servirá para os outros dez projetos, com 24 unidades cada, três já contratados e sete em licitação.
A política habitacional que a CDHU tem colocado em prática prevê dobrar o número de unidades construídas, e sua diretoria espera que a indústria do aço participe com sua tecnologia e matéria-prima, já que, como diz Abukater Neto, o Brasil é rico na produção de aço.



AA. Quais experiências a CDHU já teve com projetos construídos com estruturas em aço?
JAN. A CDHU talvez seja a única empresa de construção do país que tem escala de empreendimentos feitos em estrutura metálica. São milhares de unidades construídas neste sistema.


AA. A performance dos projetos realizados em aço atendeu às expectativas da CDHU?
JAN. As unidades construídas estão em pleno uso e as estruturas estão funcionando bem, cumprindo seu papel. Tivemos alguns recalls, que foram fruto da própria falta de experiência dos construtores, que não estavam acostumados com este sistema construtivo. Em resumo, a CDHU está preparada e aberta para as construções que utilizem a estrutura em aço.


AA. Os editais recentes da CDHU permitem que as empresas licitadas optem pelos sistemas construtivos industrializados. Neste caso, quais as principais características e diferenciais da construção em aço em relação aos demais sistemas? Quais benefícios o senhor pode destacar com a experiência da CDHU?
JAN. Historicamente e enquanto Estado, a CDHU sempre procurou a vanguarda de políticas públicas que tratem tanto das questões sociais do setor, quanto dos sistemas construtivos. Um exemplo é o PBQP-H, que nasceu depois do Qualihab e foi criado com a experiência de São Paulo. Os editais permitem que os sistemas construtivos concorram entre si, desde que sejam sistemas aprovados pela QualiHab, isto é, sejam certificados. O que temos percebido é que as empresas que concorrem às licitações estão pensando em construir, hoje, com sistemas industrializados.
No caso das estruturas em aço, elas têm como diferenciais a velocidade na construção e a consequente diminuição dos custos indiretos, proporcionando retorno financeiro.
Temos, atualmente, escassez de mão-de-obra qualificada na construção civil - e não conseguiremos suprir nem a demanda atual, nem a demanda futura – e isso não pode impactar no aumento do custo dos projetos.
No processo industrializado isso não acontece, pois sua mão-de-obra é qualificada.


AA. Pensando no custo total do empreendimento, como se comporta um projeto construído em aço, comparativamente aos sistemas convencionais?
JAN. Qualquer sistema industrializado de construção só é competitivo se tiver condições de ser produzido em escala. Nos programas habitacionais, a garantia são as escalas, uma vez que o déficit habitacional é muito grande.
O custo do sistema em aço, como já disse, é competitivo nas questões prazo da construção, uso e manutenção, porque, às vezes, uma obra sai mais cara para manter do que para ser construída.


AA. Em sua opinião, a indústria da construção em aço está preparada para atender adequadamente à demanda dos programas de moradia popular, considerando os aspectos de projeto, execução e manutenção durante a vida útil do empreendimento?
JAN. Isso quem sabe são as próprias empresas, mas espero que sim. E afirmo que as indústrias do setor precisam ter interesse no mercado da habitação popular. Se não houver interesse por parte das indústrias em absorver a nossa demanda, eu diria que este é um erro estratégico. Afinal, a construção civil é o motor de crescimento de qualquer país, que só conseguirá crescer se tiver um setor de construção civil em crescimento acelerado.
Sinceramente, espero que a indústria do aço dê atenção às nossas necessidades, e não apenas ao fornecimento de vergalhões, mas também em estruturas, laminados e perfis, para contribuir com o crescimento da construção civil, tanto em sistemas abertos, fechados e mistos. Lembrando que o Brasil é rico na matéria-prima do aço, não podemos deixar de usar essa riqueza.
E se houve uma ausência da indústria do aço no passado nos programas do setor não foi por vontade nossa. Por isso, espero que o investimento das empresas do aço nos programas habitacionais se torne uma política permanente.


AA. E, por fim, qual a perspectiva do uso das estruturas metálicas nos projetos habitacionais de interesse social para os próximos anos?
JAN. O mercado é muito grande e, com certeza, tem espaço para todos!
Entrevista publicada na revista Arquitetura&Aço, edição n° 23, 2010 - Foto: divulgação