segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Santo talento!


A designer e artista Estéfi Machado é mais conhecida por sua linha de santinhos feitos em algodão cru estampado, recheados com manta acrílica. Tudo começou com um Santo Antônio, um presente para a mãe de uma amiga. O sucesso foi tão grande que virou notícia e produto. Assim, surgiu o Santo Antônio personalizado: o primeiro santinho da linha, que ganhou outros personagens: sapo encantado, Iemanjá, amuletos e vários outros santinhos com alguma forma de interação com o dono. Além dessas peças, Estéfi desenvolve um trabalho na Turquia com mulheres muçulmanas, e tudo começou com São Jorge, para onde ela foi para conhecer melhor a terra onde o santo teria nascido. Estas e outras experiências com design e trabalho manual, a artista conta nesta entrevista exclusiva para a revista Manual Flávia Ferrari.



Conte para as leitoras de Manual Flávia Ferrari como o design e o trabalho manual entraram em sua vida.
Estéfi Machado. Desde pequena, sempre adorei desenhar, criar minhas próprias coisas, inventava minhas revistas com colagens e jaá diagramava com uma velha máquina de escrever Olivetti! Aliás, qual criança pede uma máquina de escrever como presente de Natal? (risos...)
Além disso, sempre estudei na Waldorf, cujo método pedagógico prioriza as artes tanto quanto o ensino de português e matemática!
Cresci fazendo tricô, pintando com aquarela, fazendo xilogravura, lapidação de pedras preciosas, tecelagem, escultura...E isso, com certeza, me empurrou mais ainda para o trabalho que faço hoje.


Onde você busca as inspirações para o seu trabalho?
E.M. Nas pessoas que eu conheço, com certeza. Adoro fazer presentes e personalizados que ninguém daria, e para isso penso muito na pessoa que receberá o presente. Também adoro estudar referências de outros artistas, ilustradores, e às vezes livros e revistas antigos...


Para você, qual é o papel do design na vida das pessoas? E como ele pode melhorar o nosso dia a dia?
E.M. O design não serve só para deixar nossa vida mais bonita de se ver! Apesar de que isso é muito verdade... (risos). Mas tem uma função, leva uma mensagem, "fala" sem dizer, entende? Convida a experimentar, a exercitar o olhar...


Como o design pode ser um protagonista da sustentabilidade e parceiro da economia criativa?
E.M. O design pode e deve andar junto com a sustentabilidade. Os produtos sustentáveis não precisam ter sempre aquela cara rústica, “natureba”, nem cara de artesanato de feirinha. Existem coisas incríveis nesse mercado hoje em dia.
Aliás, o que faz um produto ser sustentável não é só a cara e o material, mas a atitude que vem junto com ele.


Você já trabalhou o design com comunidades carentes. Conte-nos como foram estes trabalhos e o resultado que agregaram nas famílias.
E.M. Já trabalhei em projetos de geração de renda na Bahia, interior de São Paulo e Minas Gerais. Estas experiências foram muito ricas, porque tínhamos o desafio de criar os produtos junto com a comunidade, aproveitando cada talento do grupo e usando os recursos naturais disponíveis no entorno. E saíram coisas maravilhosas! Alguma foram até exportadas e estiveram à venda em grandes lojas de decoração. E o melhor de tudo, gerou uma renda nunca esperada para essas pessoas. Além de também exercitar nelas o olhar para o ambiente a sua volta e seus recursos naturais.
Atualmente, estou participando de um projeto de geração de renda na Capadócia, Turquia, com uma comunidade de mulheres muçulmanas. Este, mesmo antes das oficinas, já está rendendo muita expectativa e esperança na vila onde São Jorge teria nascido, localizada no Vale de Güzelöz. É uma parceria com a associação Jorge da Capadócia.


Como começou esta parceria?
E.M. Começou em setembro do ano passado, quando a Malga di Paula me procurou para vender meus São Jorges de tecido no site da associação e angariar fundos para o projeto.

Conte-nos mais sobre essa experiência em sua recente viagem à Turquia: o que encontrou, o que mais a impressionou, como são as artesãs e técnicas que pretende aplicar em seu trabalho no Brasil.
E.M. Há algo na Capadócia que arrepia e vira, mexe e faz chorar... Quando cheguei a Güzelöz, na vila onde São jorge teria nascido, fui conhecer as pessoas e o que as mulheres fazem de trabalhos manuais. A primeira impressão e a mais marcante é que as pessoas são todas muito receptivas e abertas à nossa entrada em suas vidas. Sinceramente, achei que pudesse haver alguma "saia justa" em relação a inserir São Jorge no trabalho delas, pois são muçulmanas. Mas surpreendentemente, isso não aconteceu. Quando todos davam seus depoimentos para o documentário que estamos fazendo, todos descreviam São Jorge como um personagem que de fato faz parte da história deles. Aquele cavaleiro com a lança e o dragão sempre esteve ao lado deles, durante a infâancia, nas cavernas e buracos onde brincavam. Então, nada tem de ofensivo, pois de fato faz parte de suas vidas, é inegável.
As mulheres vestem seu próprio trabalho manual. Fazem um barrado de crochê em toda a volta dos lenços que usam nos cabelos, e é um trabalho muito delicado e caprichado, superdetalhista, perfeito. Elas sabem combinar as cores e criam uma harmonia com o restante do lenço que já chega pronto pra elas.
Quando voltamos especificamente para conhecer todo os trabalhos, elas chegaram com muitos panos de prato, bordados em ponto cruz, e quadrinhos com personagens que nem sequer fazem parte de sua cultura, como, por exemplo, o coelhinho da Páscoa. Entendo que elas devam ter um anseio natural de fazer coisas além de sua cultura, mas o que queremos nesse projeto é justamente resgatar e fortalecer o que elas têm de mais autêntico e genuíno.
E foi entrando na casa de uma delas que vi, por acaso, penduradas em uma espécie de varal, algumas peças de tear com cores vibrantes e riquíssimas, com grafismos ao mesmo tempo sutis e fortes. Perguntei por aquele tipo de trabalho e elas disseram que era antigo e que não se fazia mais... A lã era de ovelhas, era cardada e fiada por elas mesmas, e tingida naturalmente.
Foi aí que meu coração palpitou! E pensei, “é isso que vamos fazer!”, ou seja, juntar as gerações, trabalhar no verdadeiro sentido de cooperativa, convidar senhoras mais velhas para passar so conhecimento para outras gerações. E manter viva a arte que realmente pertence à Vila de Güzelöz. As mulheres se mostraram muito receptivas e disseram que o que sugerirmos será bem-vindo se houver a perspectiva de renda para o grupo.
A minha ideia é usar como base o trabalho que elas fazem, o mais tradicional e autêntico, e empregar e peças para o nosso dia a dia, pois os produtos devem ser comprados por turistas que realmente valorizem suas peças, e não por caridade e assistencialismo. Além disso, temos o plano de futuramente exportar as peças em lojas étnicas de comércio solidário, onde serão seguramente valorizadas como merecem.
Combinei com as mulheres de mandar modelos e protótipos de peças de São Paulo, para que elas mesmas conversem e debatam como trazer aquela tradição do tear para os produtos contemporâneos.
E em minha próxima ida à vila, elas mostrarão sua” lição de casa” e faremos uma oficina para decidir a linha de produtos e, depois, produzi-los em quantidade para comercialização local e internacional.
Além da lã nesse trabalho, identifiquei em abundância sementes de abóbora, folhagem, um frutinho espinhoso e o mármore travertino, que se encontra pelas ruas. Ainda iremos testar a funcionalidade deste material, mas certamente o forte dessa vila já está decido por ela mesmo: será o tear feito à mão, aplicado em jogos americanos, almofadas, capas para laptop, slings para carregar bebês, e outros produtos que serão testados em protótipos. E tudo trazendo sempre os grafismo de São Jorge, sutis como os que elas já produzem, e fortes como elas sabem ser.


Depois de conhecermos seu maravilhoso trabalho com São Jorge e as mulheres muçulmanas, diga para nossas leitoras o que é a casa para você!
E.M. A casa? Nossa casa? É o nosso ninho, nossa cara, tudo o que vivemos na vida em cada cantinho, histórias, aconchego... o melhor lugar para se estar.




Serviço
Sobre o trabalho de Estéfi Machado: http://toranjarosa.com –e-mail: estefi@toranjarosa.com
Sobre o trabalho da associação Jorge da Capadócia: www.jorgedacapadocia.com.br

Entrevista publicada na edição nº 1 da revista Manual Flávia Ferrari.

A alegria das festas de antigamente

A empresária Estela Curioni, formada em engenharia civil e proprietária do ateliê de festas Caraminholando, resolveu dar uma guinada na vida de executiva e partiu para a produção de festas “como nos velhos tempos”, inspiradas em sua infância. Nesta entrevista para Manual Flávia Ferrari, Estela abre seu coração e fala sobre a alegria de ser mãe e o prazer de transformar as comemorações em momentos inesquecíveis!


Como se deu a transição de engenheira civil para empresária?
Foi algo recente, que surgiu com a maternidade brinco que foi como uma gestação. Quando nasceu meu primeiro filho, o universo infantil invadiu minha vida e eu não sabia nada. De repente, tive que descobrir como amamentar, descobrir quantas meias são necessárias no enxoval de um recém-nascido, qual a melhor posição para o bebê dormir, o que é um “cueiro”. E veio a possibilidade de poder mergulhar em um mundo de coisas lindas e divertidas que a chegada dos filhos traz.
Quando o assunto era festa infantil, sempre procurava criar algo diferente, com um significado para mim e para as crianças. A cada ano, inventava temas, brincadeiras, lembrancinhas e arranjos diferentes, e fazia com que a festa ficasse mais e mais parecida com a memória que tinha das festas de minha infância.
No nascimento de meu segundo filho, depois da licença-maternidade sendo mãe em tempo integral, vendo tudo acontecer de pertinho, surgiu uma vontade de não voltar mais para a empresa e buscar um caminho diferente. Não sabia ainda o que era, e a primeira decisão foi parar um tempo de trabalhar para fazer um MBA, enquanto decidia o que queria em termos profissionais. Até aí, não imaginava realmente deixar minha vida de executiva. Mas ficando em casa com as crianças e com tempo para pensar em caminhos de carreira, foi quando começou a gestação do meu terceiro “filho” – a Caraminholando, que pari em setembro de 2009. E para abrir a empresa, mantive muito contato com empreendedores e comecei a entender melhor o mercado e minhas habilidades.
O que é mais bacana, hoje, em relação à empresa é que consigo conciliar meus “três” filhos, já que trabalho muito em casa e uso o repertório que aprendo com eles nas festas para fazer as coisas de uma maneira equilibrada e prazerosa.
Do ponto de vista dos negócios, tudo o que aprendi em minhas funções anteriores tem sido uma experiência útil, nada é descartável. Tenho de fazer planejamento estratégico, planilhas de custo e preço, contratação e gerenciamento de equipe, e até para prender os enfeites no teto uso meu aprendizado de engenharia! Ou seja, tudo, de uma certa maneira, me trouxe até aqui.


Onde aprendeu, ou desenvolveu, as técnicas para criar as peças de sua empresa?
Sou muito curiosa com os temas que gosto. A internet foi minha grande escola e a tentativa e erro, parte fundamental e valiosa do processo! Tenho uma biblioteca muito boa também. O processo sempre começa com a definição de um “conceito” por trás das minhas criações. Sempre tem alguma brincadeirinha, alguma sacada como o castelo de cartas que serve de porta-doces na festa da Alice, ou o Toddynho personalizado de cavaleiro, com o canudinho no lugar da espada. Depois que tenho a ideia, corro atrás para viabilizá-la. Nesta hora, acho que minha cabeça de engenheira me ajuda bastante a pensar as coisas no processo, parte por parte: o que faço primeiro e o que pode funcionar para chegar ao resultado que quero. E novamente, com tentativa e erro.
Outra coisa que uso muito é a identidade visual. Cada festa tem um padrão visual que crio primeiro de forma digital, desde os tags dos docinhos até a sinalização da porta dos banheiros ou seja, passo muito tempo em frente ao computador, seja pesquisando ou fazendo os arquivos para imprimir para as festas.
Uso muito também materiais de scrapbook – papéis coloridos, cortadores, clips, glitter etc. Enfim, cada festa gera uma ideia, que gera o uso de materiais que já domino ou materiais novos que vou pesquisar.
E, por fim, quando não sei algo, peço ajuda a quem sabe fazer! Por exemplo, sou um fiasco na máquina de costura, e aí entram meus parceiros para compor o que visualizei na minha cabeça!




Como é trabalhar com temas tão variados – de festas infantis a festas de 90 anos e piqueniques?
Simplesmente maravilhoso! Amo poder variar e não ter rotina, cada hora estar pensando em algo diferente. Mas apesar de trabalhar com todas as idades e diversos níveis de “seriedade”, sempre busco ter um universo lúdico para poder criar por isso, falamos que a Caraminholando “é para crianças na barriga, nascidas e já crescidas”! Mesmo os adultos gostam e querem algo bonito, bacana e divertido na hora de comemorar e de receber.



De onde vêm suas ideias?
Eu busco sempre voltar às referências originais, como filmes, desenhos, livros relacionados ao tema, além, obviamente, da minha “querida” internet. Depois, busco ícones para brincar e passo a criar o conceito da festa, tentando não ser muito literal na criação e fugir do óbvio. É um processo que pode levar semanas ou acontecer em um “click”, que aparece em uma hora que nem estava pensando na festa. Por exemplo, a festa do Lego foi algo que criei na cabeça há muito tempo, mas que precisava de um “cliente” que pedisse o tema e me permitisse executar o que havia pensado. Foram três meses montando caixas, torres, letras com mais de 3.600 pecinhas de Lego, que resultou em uma mesa onde todos os doces, suportes e enfeites eram feitos ou enfeitados com ele.

Como você escolhe os materiais?
Depende da ideia que quero passar com a festa cada material tem uma textura que nos transmite sensações diferentes, como feltro, scrapbook ou tecido. Ou seja, escolho o material que “converse” com o projeto e componha a identidade que criei sofisticado, natural, artesanal. Faço muita coisa sozinha, mas tenho diversos parceiros principalmente na área que envolva costura!


E em casa, como é Estela Curioni?
Bem menos “caraminholenta”! Em casa não sou de inventar muita coisa, de criar coisas para a decoração. Mas adoro receber! Seja família, amigos, vizinhos. Como boa italiana, acredito que a cozinha e a mesa ainda são os melhores lugares para uma boa prosa e risadas.


Como é o seu lado mãe? O que você cria para seus filhos?
É de longe o papel que mais gosto na minha vida. Algo que me completa e que me dá muito prazer e muita preocupação e trabalho também! Quero sempre estar presente, ensinar, mostrar a diferença entre o certo e errado e, ao mesmo tempo, ter espaço para sentar e brincar, dar risada, criar deliciosas lembranças de uma infância feliz como a que tive. É um trabalho diário, de formiguinha, e o fato de ter a Caraminholando e estar muito mais presente na vida deles hoje do que antigamente, me dá muito mais oportunidade de ser a mãe que imaginei ser.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Brincar com as crianças, encontrar amigos para um café e assistir a um bom filme. Viajar, seja para o interior onde meus pais moram, seja para a praia ou qualquer outro lugar.
Sua criação para a festa Alice no País das Maravilhas foi divulgada por Amy Atlas, no blog Sweet Designs. Qual a importância para você e para outros brasileiros que trabalham neste segmento?
Existe uma tendência neste segmento de mesas mais conceituais, mais clean e surpreendentes. Acho que a Amy Atlas faz isso muito bem. Brinco que gostaríamos de ser ela quando crescer. Ser reconhecida no blog dela foi algo que me deixou muito feliz e muito importante para a consolidação da Caraminholando. Muitos dos nossos clientes ou jornalistas chegam até nós por meio da divulgação do blog Sweet Designs. Para os brasileiros, vejo que coloca nosso país no mapa de designers de festas no mundo.


Para finalizar, diga para as nossas leitoras o que é “o fazer em casa/para a casa” para você.
Eu acredito que nossa casa deve ter nossa cara e fazer em casa é a maneira de trazer nosso jeito e nossa personalidade para os ambientes, seja uma toalhinha diferente, um arranjinho de temperos na cozinha ou um mural de fotos. Algo que transforme sua casa em uma exteriorização de quem somos.




Estela Curioni ensina a montar uma mesa personalizada


1) Defina uma paleta de cores fora do padrão, com alguma cor forte que ajude a dar personalidade à mesa, como o vermelho, azul ou preto.


2) Ouse na montagem da mesa – esqueça a toalha e use passadeiras no lugar dos convidados.


3) Use o guardanapo para dar um charme especial à mesa. Dobras, laços e porta-guardanapos dão um toque de criatividade e decoram. Se for usar um porta-guardanapo, cuidado para não exagerar. Lembre-se: menos é mais.


4) Use um arranjo baixo no centro da mesa, ou pequenos arranjos do lado esquerdo do prato, oposto ao arranjo de taças.


5) A iluminação também ajuda a decorar e criar um clima aconchegante para receber. Você pode usar velas e uma iluminação mais indireta para ressaltar a decoração da mesa.


Entrevista publicada na edição nº 3 da revista Manual Flávia Ferrari.



A magia de criar

Dentre as inúmeras atividades diárias, como a de fotógrafa, crafteira para seu lar, mãe, esposa, blogueira, Eva Caroline, que diz ser curiosa, ansiosa, inventadeira, também cria para sua loja virtual La Pomme, que produz peças personalizadas. Como tudo começou e como administra tantas coisas ao mesmo tempo, as leitoras descobrirão nesta entrevista.





Você é fotógrafa profissional, então, como partiu para a decoração e confecção de crafts? É herança genética, ou foi a maternidade que despertou toda esta onda criativa em você? Enfim, conte sua história para as leitoras da Manual Flávia Ferrari.
Sabe que eu não me vejo como fotógrafa profissional? Desde pequena tenho paixão por imagem. Sou filha de fotógrafos, meu pai tinha livros e materiais e eu adorava “futucar”. Mas isso ficou bem-adormecido. Aí, me casei com um fotógrafo e minha paixão pela fotografia despertou.

Não me vejo como fotógrafa profissional porque em nosso estúdio não fotografo efetivamente, mas participo da pré e pós-produção. Antes de iniciar um trabalho, Eder, meu marido, e eu sempre trocamos ideias sobre como vamos conduzir o trabalho, mas quem clica mesmo é Eder.

Para mim o mundo craft é a materialização do meu desejo por um mundo mais leve, colorido e gentil. O gosto por fazer com as mãos sempre foi muito forte em mim. Desde sempre, vivo recortando e colando algo em algum lugar. Quando minha mãe tinha uma fábrica de artefatos em couro, pegava os retalhos para fazer coisas para mim - bolsinhas, roupas e objetos para bonecas... E esta época foi muito importante para a base de conhecimento de processos de produção, materiais e ferramentas que tenho hoje, e faz toda a diferença no meu trabalho atual e nas minhas invenções em casa.
Acredito que a criatividade é algo que se constrói, se exercita, se aprimora. Mas também acho que fatores, não sei se genéticos ou influência do meio em que se vive, facilitam esta construção. Venho de uma família muito arteira: minhas tias e avó materna são supercriativas e prendadas; minha avó cozinha e borda como ninguém; uma tia pinta; a outra escreve divinamente; outra faz tudo isso; e por aí vai. Minha mãe não se enquadra em um rótulo, é daquelas que faz bem tudo o que se determina a fazer. Mas essa coisa craft e criatividade atrelada ao emocional estava bem quietinho, lá dentro dela. Toda sua criatividade era voltada para o mundo prático e profissional. E, então, a inspirei esse desejo de ter uma casa colorida, feliz e feita por ela!
A coisa da decoração também acho que tem a mesma história, caminha junto com meu gosto pelo manual, mas acho que um ponto crucial foi a chegada em Recife, quando me mudei da Bahia, e encontrei uma casa enorme e vazia. Comecei a ter vontade de me sentir pertencente àquele lugar, de me enxergar no lugar que eu vivia. Então, aproveitei minha vontade de fazer com as próprias mãos e coloquei a mão na massa. Criei o blog para registrar as mudanças e foi aí que contaminei minha mãe com o “bichinho do faça você mesmo”!


Quais técnicas você gosta?
Técnicas? (risos)... Ah! Sou uma pessoa de ter uma ideia e colocar a mão na massa. Não sou pessoa de teoria, não me atenho à técnica. Eu faço as coisas que a minha cabecinha arquiteta. Corto MDF e faço móveis; colo papel para revestir as coisas; pinto; uso tecido; costuro (muito pouco)... Faço o que precisar fazer para realizar as coisas que imagino, contanto que não tenha etapas longas e que tenha que esperar muito tempo entre uma e outra. Não tenho paciência (é segredo... risos). Comigo é assim, ou sai na hora ou não sai nunca mais. Então, nada de técnicas, é tudo muito na tentativa e erro, tentativa e acerto.


Existe algum segredo para criar peças que encantam e dão um toque especial em cada cantinho da casa?
O segredo principal é pensar com criatividade, sempre procurar o potencial das coisas além do que elas parecem ser. Pensar no que você gosta, na história das pessoas que vivem naquele ambiente ou que vão usar aquele objeto, nas necessidades daquele espaço que você vai transformar. Peças agregadas com algum significado/sentimento sempre dão vida à casa!


Você também gosta de criar na cozinha?
Não! Definitivamente, não! Cozinha é um lugar que vou por obrigação e acho que por isso não consigo criar uma relação de prazer com ela (só se for para comer!). Dizem que cozinho bem e volta e meia faço uma coisinha diferente, mas se puder escolher entre cozinhar e pintar uma parede, teremos paredes pintadas e pratos vazios!


Como surgiu a loja La Pomme? De onde veio o nome?
Hahaha! Pergunta proibida! O marido diz que esta pergunta é perigosa porque me empolgo e não consigo colocar um ponto final na minha resposta! Mas é porque amo falar da La Pomme, então vou resumir. Quando viemos para Recife, em 2005, esta atividade foi meio “abafada” pela fotografia, que era o que estava nos envolvendo e tomando praticamente todo nosso tempo. Mas a criação dos produtos sempre estava na minha cabeça, até que em 2009 decidimos que no ano seguinte daríamos tanta importância aos produtos quanto à fotografia. Foi aí que nasceu a La Pomme – nossa loja virtual de personalizados. Este tempo, de quando começamos até o surgimento da La Pomme, foi importante para amadurecer algumas ideias e o próprio conceito de como trabalhar com os personalizados, quais suportes usar para colocar em prática e materializar os conceitos do nosso trabalho.


Tem alguma peça que criou que é especial para você? Você costuma presentear amigos com suas criações? São presentes mais pessoais, com mais sentimentos?
A La Pomme é especial para mim! Cada produto (principalmente os fabricados por nós) tem um gostinho especial. É maravilho ver o rolo de tecido branco se transformar em uma nécessaire ou carteirinha mágica. Ver aquela pilha de papel branco “virar” cadernetas, agendas, objetos cheios de cor e de vida. Todo o processo de criar a estampa, estampá-la no tecido, cortar, colar, costurar, montar, encadernar e ver o produto aparecer na sua frente é mágico. Por fim, embrulhar em papel de seda, fechar com etiqueta, acomodar na caixinha, perfumá-la e adoçá-la com bombons, amarrá-la com uma fita de cetim e entregá-la ao seu dono. E depois de entregá-la, receber sorrisos, receber de volta todo o carinho que colocamos em sua preparação. Isso é especial!
Tudo que faço, mesmo profissionalmente, termina sendo pessoal, porque para mim é difícil estabelecer esse limite: sou 100% sentimento.


 
Em seu dia a dia, como concilia suas tarefas de administradora de loja, mãe, “criativa” e blogueira?
Sinceramente, não sei! Chega o fim de um dia e eu fiz uma infinidade de coisas. Respondi aos e-mails, gerenciei impressão, dei as instruções de produção do dia e supervisionei. Fiz alguns produtos (que só eu faço por aqui). Entrei em contato com fornecedor, criei um produto novo, fiz fotos dos produtos que estão prontos para ser enviados (praticamente tudo o que produzimos é fotografado antes de ser entregue). Fiz almoço, fui pegar e levar a filhota na escola. Tuitei, postei no blog (nos dois), editei as fotos, produzi a sessão de fotos no estúdio, atendi ao telefone. Ufa! Há dias que acho que não vou dar conta. Mas no fim, tudo dá certo. Ainda tenho de preparar material para o blog pessoal, porque ele é bem autoral e só posto coisas produzidas por mim. Não é simplesmente pesquisar e escrever. Tenho de idealizar, criar e produzir, fotografar o que foi produzido e enquanto está sendo produzido, depois escolher, editar as fotos e, por fim, postar. Dá trabalho, mas eu amo. Não consigo me imaginar quieta, parada... E quando o corpo para e a mente não, já acordei várias vezes com uma ideia e levantei para colocar em prática. Já criei produtos mentalmente enquanto tirava um cochilo! E o lance de ser mãe criativa... Eu acho assim: sou uma pessoa criativa, inquieta e curiosa, impossível isso não influenciar na minha condição de mãe!


É possível ser criativa o tempo todo? E no papel de mãe?
Acho que o papel de mãe é o que exige mais criatividade... (risos). Principalmente hoje, num mundo de valores tão trocados, onde você vale o que você tem e não o que você é. Onde o valor das coisas está no quanto ela custou e não no que ela vai lhe proporcionar. Temos muito claro o tipo de educação que queremos dar para a nossa filha e isso requer muita criatividade, muita dedicação, muito jogo de cintura para mostrar a ela nossos valores sem causar um choque de realidade, nem frustrações muito grandes.
Nunca tinha parado para pensar sobre isso de ser criativa o tempo todo, ou não. Acho que criatividade é algo que se exercita, é estar sempre atento e manter os olhos abertos e enxergar além. Vejo possibilidades e me inspiro em tudo o que me rodeia, filmes, livros, música, internet. Tenho ideias quando vejo um portão diferente, ou reparo naquele detalhe do telhado de uma casa. Pensando assim é possível ser criativo o tempo todo no sentido de que tudo o que vivemos nos inspira, nos condiciona e interfere na criação.


Você acha importante para uma mãe criar coisas perto dos filhos, incentivando-os ao consumo consciente e à reciclagem?

Super! Eu costumo dizer que crianças não precisam de brinquedos caros, somos nós, os adultos, que criamos e incentivamos estes desejos. Isadora sempre foi muito participativa em tudo o que fazemos. Está sempre criando seus próprios brinquedos, histórias e brincadeiras.
A criança é reflexo do mundo que vive e reproduz o que vivencia. Se você diz que é preciso economizar água, mas não fecha o chuveiro enquanto se ensaboa ela não vai “entender” o que você “ensinou”. Portanto, é com o ato de repetir a atitude dos pais que vai formando seu caráter, vai definindo suas preferências e escolhendo o repertório de sua vida.

Para finalizar, diga-nos o que significa para você “o fazer em casa/para a casa”.
O “fazer” para mim é mágico, seja para casa, seja para um amigo, seja para um cliente. É como disse: ver algo se transformar em outro com minhas mãos me fascina. Criar, produzir, transformar, pintar, colar, construir é a forma de mostrar minha visão de mundo. Cada coisa que produzo, seja para mim ou não, está permeada pelos meus pensamentos e sentimentos, carrega a minha energia. Agora, imagina toda esta carga “do meu eu” nas coisas da minha casa! Parece meio narcisista, e pode até ser, mas isso enche a minha casa com riquezas que não têm valor, cada peça tem uma história, cada coisa tem um porquê.

Entrevista publicada na edição nº 2 da revista Manual Flávia Ferrari.