segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Fornecedor também é gente

Algo muito sério - e desagradável - está acontecendo nas empresas. Pode ser que seja conseqüência dos tempos atuais, em que a competitividade, redução de custos e equipes têm obrigado aos profissionais a virarem as 44 horas semanais para Deus sabe quanto!
Esgotamento físico e psicológico têm resultado em mau humor constante nestes profissionais e, conseqüentemente, em péssimo atendimento aos clientes, sejam internos ou externos. E externos incluem-se os fornecedores. Sim, estes coitados que fazem de tudo para agradar, mas pouco conseguem.
O que temos visto, e sentido na pele, são grosserias gratuitas. Nos dão a sensação de que nos relógios dos contatos que atendem ao público externo - e aqui incluem-se novamente os pobres fornecedores - no lugar de números (romano ou arábicos) existem nomes.
O cara vai conferir o horário e se toca: ah, tá na hora de ser maleducado com Fulano; agora é a hora de Sicrano; e assim por diante, durante todo o período em que permanecem em seus postos de trabalho - e, desta forma, garantir o minguado, muitas vezes, salarinho. Salarinho sim, que nem lhe dá o direito de programar umas férias familiares. O pior é que este profissional de empresa também deve agüentar um superior que passa o mesmo sofrimento diário: trabalhar, trabalhar, dar o melhor de si, implementar melhorias, implementar a qualidade, produzir, produzir, e receber outro minguado salarinho no final do mês.
Esta situação é recorrente, forma um círculo vicioso e não tem permitido às pessoas serem felizes em seus trabalhos e em suas vidas pessoais. Muito menos os pobres coitados dos fornecedores, que também têm que produzir, aumentar a qualidade, sorrir o tempo todo e, o pior, agüentar o mau humorado cliente lhe soltando imprompéries do outro lado do telefone (amaldiçoado seja Graham Bell!).
Apesar dos pesares, nós, os fornecedores, damos um desconto para nossos contatos, afinal sabemos quão dura é a vida dentro das corporações. Mas também vamos fazer um acordo: como todo mundo está passando pelos mesmos apuros e estamos todos no mesmo barco (enquanto profissionais da área da comunicação), que tal sermos um pouco mais cordiais com os semelhantes? Vamos ser mais compreensivos e relevarmos as diferenças, principalmente as culturais? Vamos dar uma chance para aquela pessoa que está dando voltas atrás do próprio rabo para agradar ao cliente?
Aqui vai um apelo de um fornecedor que se encaixa perfeitamento no perfil do "correndo atrás do próprio rabo para agradar e receber pelo menos, no mínimo, um obrigado cortês": dêem uma chance a nós; por favor, respeitem as nossas limitações. conversem claramente conosco, passem briefings decentes (se é que sabem o que é isso e o que querem), porque prometemos, nós, os fornecedores, a continuarmos a dar o melhor de nós a cada segundo de nossas vidas (aliás, não cobramos horas extras só para lhes agradar ainda mais!) e oferecemos a nossa criatividade, que é infinita, enquanto dure o seu respeito por nós.
Aliás, queremos deixar bem claro: fornecedor também é gente!
(texto escrito em novembro de 2005)

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