segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O aço e o maior arquiteto brasileiro

Por Deborah Peleias, para a revista Arquitetura & Aço, edição n° 13

No final da década de 1950, Oscar Niemeyer tira partido do aço para cumprir os prazos de construção do Congresso Nacional e Esplanada dos Ministérios, edificações de seu mais importante trabalho, Brasília
Ousadia, tenacidade, inventividade. Estas três palavras descrevem o processo por qual passou a criação de Brasília, há 51 anos. No centro-oeste brasileiro, praticamente inóspito no ano de 1957, o arquiteto Oscar Niemeyer colocou em prática sua nova concepção estética, adquirida após uma longa viagem em contato com as grandes edificações européias, sem, contudo, renunciar aos princípios fundamentais que até então nortearam sua obra: o emprego de materiais modernos, a exploração da flexibilidade do concreto e a linguagem incessantemente renovada por sua fértil imaginação plástica.
O trabalho de Niemeyer em Brasília pode ser dividido em três categorias distintas: os palácios de pórticos, os edifícios compostos por jogos de volumes simples e os edifícios religiosos de planta centrada. Destes grupos, o mais inesperado e homogêneo em sua inigualável originalidade é o primeiro. E é, contudo, no segundo grupo que se encontra um aspecto também inesperado na obra do mais renomado arquiteto brasileiro: o aço.
Defensor do uso do concreto na arquitetura, Niemeyer tirou partido pela primeira vez das estruturas metálicas ao se defrontar com o prazo exíguo da construção da nova capital do Brasil. Um dos seus primeiros projetos, então, foi o Brasília Palace Hotel, inaugurado em 1958 e cujas estruturas metálicas contabilizaram 905 toneladas de aço, fabricadas em Volta Redonda e transportadas de trem até Anápolis (GO) e por rodovia até Brasília, onde foram montadas até dezembro de 1957.
A segunda vez em que as estruturas metálicas novamente foram necessárias para que ele cumprisse o compromisso de construir Brasília em prazo recorde foi para agilizar as obras dos Ministérios e do Anexo do Congresso Nacional. Fabricadas nos Estados Unidos pela Bethleheim Steel, as estruturas tinham 15 mil toneladas e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro. Para chegarem até o canteiro de obras, percorreram o mesmo caminho daquelas utilizadas no Brasília Palace Hotel e a responsabilidade da montagem ficou a cargo da empresa norte-americana Reymond Pill, especializada em fundações e que no Brasil se estabeleceu sob o nome de Construtora Planalto.
Devido ao pouco conhecimento sobre a edificação em aço na época, a maior dificuldade encontrada por Niemeyer foi o despreparo da mão-de-obra, a qual, diante das dificuldades da montagem da estrutura, precisou receber, de forma quase que precária, os rudimentos da técnica de construção em aço.
A obra de maior complexidade foi o edifício do Anexo do Congresso Nacional, com 29 pavimentos, iniciada quando as obras do edifício principal já estavam bem adiantadas, e que para ser executada em prazo hábil recebeu estruturas metálicas no lugar das de concreto. Na Esplanada dos Ministérios, situada de ambos os lado do Eixo Monumental, foram dispostos os 11 primeiros edifícios ministeriais, todos com estrutura metálica.
Cada edifício compreende, além do térreo, mais oito pavimentos tipo, com 16 mil m² de área construída, na qual foram empregadas 1.080 toneladas de estruturas metálicas, cuidadosamente classificadas de acordo com um plano de montagem, com identificação de cada peça, inclusive com as extremidades pintadas com cores diferentes, para que a administração de obra e os operários pudessem distinguir as de um edifício para outro, uma vez que todas eram semelhantes.
A história de Brasília é, portanto, a prova da ousadia, tenacidade e inventividade de Oscar Niemeyer, que visualizou o aço como meio para chegar aos seus objetivos construtivos. Afinal, ele afirmou que “antigamente quando se terminava uma estrutura via-se apenas lajes e apoios. A arquitetura vinha depois, como uma coisa secundária e eu queria o contrário, essa junção das estruturas com a arquitetura; queria que elas nascessem juntas e fossem bastante sem nenhum detalhe para demonstrar o projeto de arquitetura”.

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